20 de janeiro de 2010

Coisas de antes.

A partir de uma certa altura, a minha história, com mais ou menos personagens, tem sido sempre a mesma: sou a miúda que procura resgatar o mundo que, aparentemente, lhe passou ao lado. Quero viver num cantinho de mundo onde a agressão seja uma coisa mais distante e a alegria de viver seja palpável. Vivo rodeada de gente que, a cada dia que passa, está mais próxima do abismo. Gente que carrega todos os dias no rosto uma insatisfação insuportável por não estar onde gostaria, por não ter o que quer – e, assim, a felicidade é uma coisa “dos outros”.

Hoje, apetece-me chorar por todas essas almas desistentes que decido abandonar.

*


Aproxima-se a altura de fazer as malas novamente e desta vez fá-lo-ei apenas por mim e pela vontade de viver mais do que isto que me tentam impingir. E é por isso que a bagagem será leve; o objectivo é começar do zero, desenhar o meu próprio esboço e dar-lhe forma depois, com todos os lápis de altos e baixos que for comprando pelo caminho.

Está quase na hora – não sei se quero uma anestesia ou se quero sentir tudo.

3 comentários:

  1. Sentir: é sempre melhor sentir, mesmo que seja um sentimento quase deserto, como é próprio de uma folha em branco. É que apesar de tudo, carrega sempre um fragmento de alívio, um sopro de mudança anunciada que reflecte a possibilidade de traçarmos, como bem disseste, o nosso próprio esboço.
    É nesse traçar que ganha forma que definirás, cada vez mais, a tua posição nesse cantinho no mundo que descreves. E as coisas de antes continuarão no passado, na folha que já foi virada ou arrancada e que se perde no meio de tantos outros rascunhos de vida.
    Enquanto souberes a tua alma assim, resistente à queda na desistência que afogou tantas outras que te rodeiam, aproveita para partir as vezes que quiseres, para começar do zero sempre que te apetecer. Mas sente, sente sempre, porque é essa sensação de montanha russa sem cinto de segurança que vai sempre fazer tudo valer a pena.

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  2. sente sente sente.se já não sentires morre e renasce só para sentir outra e outra vez.

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