12 de maio de 2009

Ornithology.

Dado que dormir tem estado difícil, também os bilhetes de ida para o subconsciente estão, de momento, esgotados. Agora estou numa de sonhar de olhos bem abertos. Vejo-me estupidamente feliz, com um sorriso que dói de tão permanente, respirando com o mesmo prazer que me daria viver para sempre - e é nisso que estou a acreditar; porque nenhuma criança concebe a morte, sou imortal. Sobrevôo, assim, toda a falibilidade das coisas materiais, assumindo a obscena leveza da alma que sou, imune a qualquer corrente. Sou o Jazz, danço o Samba, canto a Bossa Nova e expiro a Soul num Rhythm'n'Blues muito meu, muito Indie. Despeço-me de todos os menores que conheci até hoje - agora, existo no acorde maior do mundo. Cruzo-me com outros tantos pássaros que me sorriem, reconhecendo-me, inequivocamente, como uma deles. Faço, finalmente, parte do bando, a única colectividade onde a minha total individualidade é possível, onde o que não fui e o que poderia vir a ser é insignificante ao ponto de me fazer explodir numa gargalhada: o que nos prende ao solo não é a lei da gravidade, mas sim a imbecilidade de todas as vãs preocupações da Humanidade. Foi essa a lição que me ofereceste, e eu decidi dar o salto - nem grande, nem pequeno; definitivo. Abracei moderadamente a imoderação do derradeiro sonho da liberdade, a fuga sem destino planeado, a vontade nula de olhar para trás. Ter-te por perto.

(Um dia que decidas poisar noutros parapeitos, terei a nossa fotografia a sépia.)

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