7 de fevereiro de 2013

Adágio

Todos nos lembramos do momento em que dissemos mãe, não andes tão depressa. Quando as mãos são demasiado pequenas para agarrar a pressa que é ser adulto. Quando as pedras da calçada são demasiado grandes para caberem todas debaixo dos nossos pés. 
Todos nos lembramos do momento em que a situação se reverte. Quando nos dizem não andes tão depressa. Quando chegar é que importa e o resto são trocos. Quando a meta é nossa e de mais ninguém. Quando o corredor é só nosso. Quando não queremos que ninguém nos veja tropeçar. 

Três quartos de ano e o funeral do meu pai depois, voltei a dar a mão à minha mãe. E fui pequenina outra vez: mãe, não andes tão depressa. Mãe, não vivas tão depressa, que essa história de sermos nós a fazer o nosso caminho é uma treta, são os senhores lá de cima a jogar King connosco, damas e valetes fora quando lhes apetece. 

Mãe, não andes tão depressa, que devagar vamos longe e eu não quero ficar para trás.


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