"Um dia vou ser florista", anunciou a criatura cheia de si, desesperada por esconder-se entre o rebanho, que das nove às cinco, mais coisa, menos coisa, faz a vidinha para depois ir à vida. A verdadeira, aquela dos prazeres e da ociosidade, a que está para lá da porta número 3, 21, 52, 117 (é favor preencher conforme a sede fiscal da respectiva entidade laboral).
O mundo está cheio de floristas que ainda não o são, que preenchem o boletim do euromilhões com sonhos e deixam os números cair das algibeiras, no café, no hipermercado, nas contas da água, da luz, do gás, do conforto. O Fado é Património Imaterial da Humanidade e a Sobrevivência é o Pão-Nosso-de-Cada-Dia, o tema de conversa em todas as bocas e a principal causa de morte da cidadania portuguesa.
"Um dia vou ser florista", repetiu a criatura, engolindo em seco ao seguir o rasto de um avião, por perceber que nunca teria (nem quer ter) coragem de partir.
Florista de mal-me-queres.
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